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terça-feira, 30 de outubro de 2012

A HISTÓRIA DA MÚSICA - DEPOIS DO LOMBO DO PINGO

Nesta matéria extraída do Jornal do Povo, da cidade de Cachoeira do Sul, uma breve relato sobre o fato que inspirou os autores (Osmar Proença/André Teixeira)  da milonga "Depois do Lombo do Pingo", vencedora da 22ª Vigília do Canto Gaúcho, festival realizado nos dias 26 e 27 de outubro, em Cachoeira do Sul. O texto apresenta também uma espécie de glossário para as metáforas utilizadas pelo letrista.
Ao final, o link para a audição da música vencedora.
Eis a matéria na íntegra:


Entenda a canção que venceu a 22ª Vigília
A saudade campeira em forma de versos que veio de São Gabriel
A letra da canção vencedora da 22ª Vigília do Canto Gaúcho foi concebida pelo enfermeiro Osmar Proença, da cidade de São Gabriel. A música é inspirada na história de um ex-capataz de estância, paciente de Proença e ao qual o letrista assistiu até os últimos dias. Com base no que o paciente relatava durante seus delírios, Proença foi montando a trajetória do ex-capataz e registrando as lembranças que o gaúcho verbalizava em seus devaneios no leito de morte.
A composição “Depois do Lombo do Pingo”, tem melodia de André Teixeira e  foi interpretada pelo Quarteto Coração de Potro, de Lajes, Santa Catarina.
Depois do lombo do pingo
Gênero: milonga
Autor: Osmar Proença
Melodia: André Teixeira
Intérpretes: Quarteto Coração de Potro
Cidade: São Gabriel
Resumo: O enfermeiro Osmar Proença compôs “Depois do lombo do pingo,” inspirado nos relatos de um velho capataz de estância à beira da morte.
Abre o peito e chama a tropa
Que assoma em seu devaneio *
Venha, venha, venha boi
Com assovios pelo meio
Olha por cima do ombro *E banca o pingo no freio
É bem assim que lhe vejo
Porque a razão me permite
Quem já esbarrou no horizonte
Agora tem seu limite
Casou com a lida de campo
E a idade fez o desquite *
A se julgar pelos feitos
Quem poderá afinal
Justificar tanta maula *Levantado em pedestal
E um índio cria da estância
Sem nome e ser desigual
Depois do lombo do pingo
O que sobra é quase nada
Uma tapera sem sombra
Quase no fim da estrada *E uma lembrança remota
Chamando bois nas tropeadas
O avestruz não faz mais ninho
Campeando as covas de touro
O cusco não sai para o campo
Perdeu a sombra do mouro
E a tropa é só uma quimera
Que não tem alma nem couro *
Depois do lombo do pingo
O que sobra é quase nada
... E uma lembrança remota
Chamando bois nas tropeadas *

* DevaneioNeste verso o autor faz menção aos devaneios do velho capataz, então no leito de morte, recordando os bons tempos de estância. Em meio a delírios, o corpo debilitado ainda se esforça para arrancar o último assovio.
* Por cima do ombroAqui o autor reforça a ideia das lembranças que ainda ajudam a manter vivo o capataz alma pampeana. São reminiscências que o remetem a um ambiente do qual a doença lhe afastará para sempre.
* DesquiteNeste verso o autor utiliza um termo comum para definir a separação entre casais, para dar ideia do rompimento do elo que havia entre o homem moribundo e a vida campeira.
* MaulaO letrista recorre aqui a um adjetivo da Língua Espanhola, que designa o que é ruim e não tem préstimo, para reforçar a situação em que se encontra o velho capataz após ser acometido pela doença.
* Quase no fimda estrada
Neste ponto Proença adota uma expressão típica para definir o fim da vida ou quem está prestes a morrer, como no caso do paciente do qual cuidava, enquanto escrevia a letra de “Depois do lombo do pingo.”
* Que não tem alma nem couroAqui mais uma vez o autor retoma a noção de finitude do ser humano, recuperando a ideia de morte como desligamento do meio físico.
* Chamando bois nas tropeadasA letra encerra com verbo no gerúndio, possivelmente pela intenção do autor de frisar a ideia da vida em movimento que restou apenas na lembrança do velho gaúcho, agora imóvel no leito de morte.

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