Interessante narrativa sobre os primórdios da música regional gaúcha, disponibilizada pelo compositor e radialista Jaime Ribeiro, cujo teor reproduzimos a partir de agora.
Voltamos
a história de “Os Tropeiros”.
(Daniel Fanti)
Uma
vez consolidado o conjunto musical, sem nome de batismo, semanalmente se
apresentava na Rádio Charrua, com grande sucesso, dentro da programação do
Sinuelo do Pago. A partir da inclusão das duas prendas, Rosa Maria e Diná, é
que veio a denominação completa e definitiva: Conjunto Vocal e Tradicionalista
“Os Tropeiros”.
As
cinco vozes se entrosavam: o repertório foi crescendo;
João
Batista Machado transmitia a alma campeira com sua cordeona em cada execução;
Mozar Dornelles e Adão Knelmo Alves emprestavam o som das guitarras, num
profundo sentimento da música da querência, complementados pelas vozes
femininas de Rosa Maria e Diná Machado, num arranjo ritmado do som de esporas.
No
jornal “A Platéia” de Livramento e com circulação nesta cidade, comentava a
professora Cely Lisboa, em sua coluna “Na Passarela dos Pampas”: “O CTG Sinuelo
do Pago, sob a orientação do patrão Luiz Stabile e João Rodrigues, num gesto
simpático de cordialidade, prestou significativa homenagem, apresentando “Os
Tropeiros”, o quinteto formidável que já vem tendo repercussão mesmo fora dos
pagos. Entre os números constam “Roda Carreta”, harmonização perfeita pela
interpretação desses jovens”. “Os Tropeiros” passam a ser reconhecidos como o primeiro
grupo musical de canções nativas de Uruguaiana.
Certo
dia, um funcionário da Gravadora Continental, que andou por esses pagos,
impressionou-se com a harmonia e segurança do grupo. Gravou numa fita, algumas
músicas e viajou para São Paulo para mostrar ao chefe da gravadora, o que ele
descobrira em Uruguaiana. Noutra coluna do jornal da cidade, “Disco..Mentando”
dizia: “O Conjunto “Os Tropeiros”, que orgulha os uruguaianenses, estava um
pouco parado. Motivo: luto e doença. Agora,
é com satisfação que recebi a alegre notícia de que os “Tropeiros” voltam a
ensaiar e com grande afinco. Motivo: chegou a proposta de duas gravadoras, são
elas: a CONTINENTAL e TODA AMÉRICA. Por
outro lado informo que o diretor do conjunto, o amigo João Machado, estará
avionando para Porto Alegre, para acertar o contrato com uma das companhias
gravadoras. Desejamos, êxito e grande sucesso”.
Começa
o grupo a sonhar mais alto, na eminência e perspectiva de gravar um disco.
Nunca antes alguém, nesta cidade, teria gravado um disco, era um pioneirismo
sem tamanho, uma pretensão difícil, mas não impossível, precisariam ir a São
Paulo.
Começa
a mobilização em busca de recursos e de apoio.
Em
1º de janeiro de 1960, Mário Pinto envia ofício ao dr. Adhemar de Barros,
prefeito de São Paulo, correligionário de partido político do PSP, que desse o
necessário apoio ao conjunto Regionalista “Os Tropeiros”, grupo artístico de
sua rádio, que iriam gravar um disco. Em 1º de novembro de 1960, o grupo recebe
uma missiva do sr. Mário Duarte, do Departamento de Repertório das “Gravações
Elétricas S. A., de São Paulo, dizendo: “De acordo com o combinado com o nosso
representante em Porto Alegre, ficou estabelecido de gravarmos um disco de 45
rpm. Para cuja gravação, pedimos nos comunicar as datas em que estão
disponíveis”.